sábado, 1 de outubro de 2011

Criatividade tem início na infância, e posteriormente na vida adulta.

Há alguns anos, quando iniciava meus estudos sobre criatividade e seus processos, tive acesso a uma fita de vídeo que fazia parte do acervo de uma antiga oficina de criatividade da empresa em que trabalhava a qual, infelizmente, por razões de corte de custos, havia sido desativada. Muito bem, essa fita tinha duração de apenas alguns minutos, suficientes para me fazer entender quanto poderia aprender, se prestasse um pouco mais de atenção no comportamento das crianças e de como elas conseguem, de uma forma muito simples e fácil, ser criativas e originais.

O vídeo mostrava um pequeno grupo de crianças em um salão dançando descontraidamente. Até aí nada de novo, mas olhando melhor, notei que todas, sem exceção, estavam dançando e se divertindo muito, cada uma do seu jeito único e original. Todas pulavam, brincavam e dançavam freneticamente, e nenhuma delas estava preocupada com o que as outras poderiam pensar, nem interessadas em impressionar ninguém e muito menos ligando para o ritmo certo da música. Eram apenas crianças com a única preocupação de se divertir e “dançavam como se ninguém estivesse olhando”, e ninguém estava mesmo. Todas criaram sua própria maneira de dançar.

A relação das crianças com a criatividade é um casamento, um perfeito arroz com feijão, elas não têm nenhum tipo de bloqueio e nem estão presas a paradigmas. Não estão preocupadas com a opinião dos outros, nem têm medo de perguntar e muito menos de errar. São extremamente curiosas, adoram novidades e se divertem resolvendo problemas, ou melhor, resolvem problemas se divertindo.

Vamos agora tentar imaginar um pequeno grupo de adultos dançando: Tenho certeza de que alguns não estariam participando, encontrariam facilmente “n” desculpas para não dançar, enquanto o resto estaria dançando provavelmente em ritmo muito semelhante, tentando realizar os últimos passos da moda, muito preocupados em não pagar “mico” e ainda, se possível, em agradar seus observadores.

Mas se nesse grupo alguém mais criativo tentasse criar uma nova dança apenas pelo puro prazer de descobrir novos movimentos - ou quem sabe imitando a coreografia do acasalamento das baleias rosas do mar ártico? - a maioria estranharia tal atitude, alguns achariam graça e outros iriam logo caçoar do pobre coitado. Ou quem sabe, alguns até o imitariam e sua dança poderia virar moda?

Mas por que eles teriam tal atitude? Pela simples razão que este doido criativo mudou o protocolo, fugiu do padrão estabelecido, “saiu do quadrado”, criou algo novo e diferente, coisa com que não sabemos muito como lidar. As novidades e principalmente as mudanças sempre foram difíceis de serem aceitas por quase todos nós, a exemplo do sucesso do livro "Quem mexeu no meu queijo", que retrata exatamente a importância de antecipar as mudanças que se fazem tão necessárias ao sucesso e são inevitáveis em quaisquer áreas profissionais e pessoais.

A maioria dos adultos foi educada para seguir as regras estabelecidas pela

  
 "Toda criança é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer"(Picasso)
  

sociedade, comunidade, família, amigos, etc. Foi ensinada a obedecer e aceitar ordens sem contestar e, por diversas vezes, proibida de perguntar, pensar e duvidar, e acabou perdendo a curiosidade e tão a sonhada criatividade característica da infância. Como conseqüência também o prazer e a capacidade de resolver problemas originais, em suma, desaprendeu a gostar de problemas.

Certa vez, Einstein disse: “ - não sou mais inteligente do que ninguém, sou apenas a pessoa mais curiosa que conheço”. Curiosidade é um poderoso motivador na resolução de problemas e desafios aparentemente “impossíveis”.

A criatividade tem suas raízes na infância, então por que diacho existem tão poucos adultos criativos? Pois é, tiveram a pobrezinha assassinada durante a educação por diversas razões, algumas identificadas pela Dra. Amabile em uma pesquisa, conforme citadas no livro O Espírito Criativo, as quais transcrevo:

“...
Vigilância – sobre observação constante, a criança não mais assume riscos e o impulso criativo se retrai.
Avaliação – consiste em fazer as crianças se preocuparem com o julgamento alheio de seu trabalho.
Recompensas – uso excessivo de prêmios, como medalhas, dinheiro ou brinquedos. Em excesso, as recompensas privam a criança do prazer da própria atividade criativa.
Competição – consiste em colocar a criança na contingência desesperada de vencer ou perder, quando apenas uma galgará o topo.
Restrição de escolhas – dizer às crianças quais atividades devem empreender em vez de deixar que se encaminhem para onde as levam a curiosidade e a paixão.
Pressão – alimentar esperanças grandiosas quanto ao desempenho da criança. Forçar a barra no aprendizado forçado pode despertar verdadeira aversão pela matéria imposta.
...”

Muitos não tiveram oportunidade durante a infância para desenvolver e exercitar a criatividade ou a tiveram tolhida por alguns dos itens listados ou por qualquer outra razão inibidora. Tornaram-se adultos com profundas dificuldades na resolução de problemas originais, profissionais "mornos", como muito bem descreveu o criador do Habib´s (maior rede fast-food Árabe do mundo e segunda maior rede brasileira de fast-food).

Segundo Alberto Saraiva, em seu livro Os Mandamentos da Lucratividade: “...profissionais mornos não erram porque não fazem, não discordam porque se omitem, não armam escândalos porque são vazios, não fracassam nem vencem porque vivem no silêncio do passar do tempo, não brigam nem discutem porque não se importam se estão de acordo ou em desacordo. Enfim, os mornos não constroem, não tentam, não erram, não produzem, não falham e não lutam...”.

Portanto, ser morno é o inverso de ser criativo. Em sua natureza não existem crianças mornas, elas nascem criativas e proativas, só que nem sempre as sementes da criatividade encontram o melhor terreno para o crescer e florescer.

A criatividade hoje é uma habilidade fundamental para qualquer tipo de profissional e muito requisitada por grandes empresas. A boa notícia é que todos podem ser criativos, alguns em áreas bem diferentes e específicas, mas todos podem desenvolvê-la através de exercícios que auxiliam o pensamento e liberam nossas mentes das barreiras e paradigmas criados pelo sistema e sociedade.

Paradigmas - Segundo o dicionário, nosso bom e velho Aurélio, são limites e valores que condicionam o pensamento e a ação.

Quebre alguns de vez em quando, seja criativo como uma criança.
Apoio: Cantor  Gedyelson Olliver.

fonte: mãos dadas.

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